É grande a alegria de nos encontrarmos nesta majestosa basílica dedicada à Senhora da Conceição Aparecida, em torno de Monsenhor Darci José Nicioli, que, nesta celebração, será ordenado bispo e se tornará magno sacerdote – sacerdos magnus - para apascentar o rebanho que o Senhor lhe confiará.
Saúdo fraternalmente a todos os que aqui comparecem para participar deste solene acontecimento. Acolho calorosamente os Senhores Arcebispos e os Senhores Bispos. Cumprimento o Revmo. Padre Michael Brehl, Superior Geral da Congregação dos Missionários Redentoristas, e o Padre Luiz Rodrigues, Superior Provincial. Saúdo os queridos sacerdotes diocesanos, os missionários redentoristas, diáconos, religiosos, seminaristas e fiéis da Arquidiocese de Aparecida. De modo especial, cumprimento os familiares de Monsenhor Darci, seus conterrâneos de Jacutinga, os amigos e romeiros vindos de outros lugares.
Apresento minha saudação às autoridades presentes. A todos, de maneira muito cordial e fraterna, acolho nesta Casa da Mãe Aparecida.
Monsenhor Darci, o anúncio de sua nomeação pelo Santo Padre Bento XVI, para Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, ocorrido no dia 14 de novembro último, foi recebido com grande entusiasmo pelo clero, religiosos e fiéis da Arquidiocese. Hoje, quase três meses após a divulgação da alvissareira notícia, reunimo-nos em comunidade para sua ordenação episcopal. Neste lugar sagrado, nesta Basílica da Padroeira do Brasil, Vossa Reverendíssima, por longos anos, prestou relevantes serviços nas funções de Ecônomo e de Reitor do Santuário Nacional. Seu dinamismo, liderança, espírito empreendedor e, sobretudo, seu amor a Nossa Senhora, distintivo de todo missionário redentorista, ficarão na memória e no coração dos romeiros devotos de Nossa Senhora Aparecida.
Muito obrigado, Monsenhor Darci, caríssimo irmão, amigo e colaborador de tantas jornadas, pelo honroso convite para conferir-lhe a ordenação episcopal, tendo ao meu lado, como consagrantes, meus queridos irmãos, o Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, e Dom Pedro Fré, Bispo Emérito de Barretos, seu confrade na Congregação dos Missionários Redentoristas.
Caríssimos irmãos e irmãs:
A imagem do pastor, quando se fala do amor de Deus a seu povo, é frequentemente lembrada na Sagrada Escritura. Como tantos outros autores sagrados, também o profeta Ezequiel desenvolve esse tema no seu livro, do qual escutamos há pouco um breve texto, retirado do capítulo 34. Em oposição aos maus pastores, isto é, os chefes políticos e religiosos do povo de Israel, Ezequiel anuncia que o próprio Deus procurará suas ovelhas e delas cuidará. “Sairei à procura da ovelha perdida e reconduzirei ao redil a desgarrada; enfaixarei a que estiver ferida e cuidarei da doente, velarei sobre a gorda e forte; eu as apascentarei com justiça.”
Essa profecia de Ezequiel tornou-se realidade na pessoa de Jesus, que, no Evangelho há pouco proclamado, retoma a imagem do pastor para definir sua missão: “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas.” O mercenário, que não é pastor, ao contrário, não se importa com as ovelhas; trabalha por interesses escusos, quando vê o perigo, abandona-as e foge.
O Bom Pastor constitui a imagem privilegiada à qual o Bispo deve, continuamente, configurar-se. Assim escreveu o Bem-Aventurado João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores Gregis: “A figura ideal do Bispo com que a Igreja continua a contar é a do pastor que, configurado com Cristo na santidade de vida, se dedica generosamente em favor da Igreja que lhe foi confiada, tendo no coração ao mesmo tempo a solicitude por toda a Igreja espalhada pela terra.” (nº 1)
Conforme os evangelhos sinóticos, Jesus, dentre os seus discípulos, escolheu doze e os chamou apóstolos. Com estes, formou um colégio, um grupo estável, que tinha Pedro como chefe, como cabeça. Antes de sua Ascensão, Jesus, com sua autoridade e poder, enviou-os para prolongar, no espaço e no tempo - até o fim dos séculos -, sua missão. “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue”, disse-lhes Jesus. “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mt 28,18-20).
Em razão do mandato de Jesus, os apóstolos tiveram o cuidado de constituir sucessores, para que, como atesta Santo Irineu, a tradição apostólica fosse manifestada e guardada ao longo dos séculos. A especial efusão do Espírito Santo de que foram repletos os apóstolos pelo Senhor ressuscitado foi comunicada por eles, por meio do gesto da imposição das mãos, aos seus colaboradores. Estes, por sua vez, transmitiram-na com o mesmo gesto a outros, e estes, sucessivamente, a outros mais, sem ser jamais interrompidos os elos dessa corrente apostólica.
É o gesto, queridos irmãos e irmãs, que nós, bispos, vamos repetir daqui a pouco, por meio do qual, juntamente com a prece de ordenação episcopal que vamos proferir, será conferida a Monsenhor Darci a plenitude do sacramento da ordem. Será ele, assim, constituído membro do colégio episcopal, sucessor dos apóstolos, cuja cabeça é o sucessor de Pedro, atualmente o Papa Bento XVI, que preside a Igreja na unidade e na caridade.
Ao bispo é confiada tríplice função na Igreja: a primeira e mais importante delas é a de Servidor da Palavra de Deus. Essa missão é simbolizada pelo livro dos evangelhos que será colocado aberto sobre a cabeça do bispo ordenando. A segunda missão é a de Santificador, pela administração dos sacramentos. A terceira, como escutamos da leitura do Evangelho, é a de Servidor do povo de Deus, que deve ser exercida, conforme o coração de Cristo, o Bom Pastor: com caridade, conhecimento do rebanho e solicitude com todos, em particular com os pobres, na defesa corajosa da vida e da dignidade humana; na promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso; na busca das ovelhas perdidas para reconduzi-las ao único redil, que é a Igreja.
Ao tratar, na Pastores Gregis, do caráter colegial do ministério episcopal, o Bem-Aventurado João Paulo II faz também referência ao Bispo Auxiliar: “Cada Bispo em comunhão com os irmãos no episcopado e com o Papa, representa Cristo Cabeça e Pastor da Igreja, não só quando recebe o cargo de pastor de uma Diocese, mas também, quando colabora com o Bispo diocesano no governo de sua Igreja, como é o caso do Bispo Auxiliar” (nº 8).
Caro Monsenhor Darci, como Bispo Auxiliar, Vossa Reverendíssima é chamado, a partir de hoje, a exercer seu múnus episcopal em comunhão com o Bispo diocesano, o presbitério, os fiéis leigos a serviço da porção do povo de Deus que caminha nesta Arquidiocese e, também, dos milhões de romeiros que acorrem ao Santuário para agradecer as graças recebidas e suplicar as bênçãos de Deus e a proteção de Nossa Senhora.
Em sua nova missão, é igualmente chamado a abraçar, com amor e dedicação, a caminhada e a vida desta Igreja local, muito querida do povo brasileiro, pelo privilégio de ter, em seu território, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira e Rainha do Brasil. No dizer de Paulo VI, ela é pequena, territorialmente, mas insigne pela importância e pelo alcance de seu trabalho evangelizador em todo o território nacional.
Prezado Monsenhor Darci, agradeço-lhe a disponibilidade em aceitar sua designação para Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, colocando-se ao serviço do Reino, com humildade e mansidão, a exemplo de Jesus Cristo, o Bom Pastor, manso e humilde de coração, que veio para servir e não para ser servido, que veio para dar a vida por suas ovelhas. Presto-lhe minha homenagem por sua ordenação, venerando a sacralidade do episcopado que lhe vai ser conferido, reconhecendo nele a plenitude do sacerdócio.
O seu lema – “Signum tuum luceat” – permite-nos descortinar o caráter e a motivação de seu ministério episcopal, a serviço de Cristo e de Sua Igreja, sob o manto de Maria.
“Que brilhe o teu sinal”. “Que a tua luz brilhe”. O lema encontra inspiração no capítulo 12 do Livro do Apocalipse: “um grande sinal apareceu no céu: uma mulher vestida de sol, a lua sob os pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Esta mulher é identificada por alguns autores, entre eles Santo Epifânio e São Jerônimo, com Maria, da qual nasceu Jesus. Em razão dessa interpretação, Maria aparece com asas, em algumas representações antigas do Apocalipse, pois, conforme narrado no mesmo capítulo 12 (v.14), para escapar da perseguição do Dragão, a mulher recebe duas asas da grande águia para voar ao deserto.
“Que a tua luz brilhe”. De Maria, nasceu Jesus, “o sol nascente, a luz que vem do alto e ilumina a quantos jazem entre as trevas e na sombra da morte e para dirigir os nossos passos, guiando-os no caminho da paz.” (Lc 1,78-79).
“Que a tua luz brilhe”. Que, em sua vida e por seu ministério, Monsenhor Darci, o Cristo, a luz das nações, a verdadeira luz que ilumina todo homem, brilhe por Maria, sempre intercessora e Perpétuo Socorro.
“Que a tua luz brilhe”. Seja o lema um farol no seu ministério episcopal. Que o Cristo, Bom Pastor, luz do mundo, o fortaleça nos momentos de cansaço. Renove seu entusiasmo nas horas difíceis e seja sempre o horizonte, o rumo e a grande motivação de sua vida.
Seja bem-vindo, Monsenhor Darci, ao Colégio Episcopal, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - e à Arquidiocese de Aparecida.
A Virgem da Conceição Aparecida, sob cujo manto protetor Vossa Reverendíssima inicia seu episcopado, proteja-o hoje e sempre.