sábado, 30 de março de 2013

Missa do Lava - Pés - Santuário Nacional


Iniciamos, nesta noite, com esta missa vespertina da Ceia do Senhor o Tríduo pascal: a celebração  da morte e da ressurreição do Senhor. Somos convidados a acompanhar Jesus nos momentos derradeiros de sua vida terrena, de sua passagem deste mundo para o reino de seu Pai.

A comemoração da Ceia do Senhor condensa diversos elementos básicos da vida cristã: a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial e o novo mandamento do amor que Jesus deu aos seus discípulos.

São João, o autor  do quarto evangelho, não narra  a instituição da Eucaristia, provavelmente, porque os outros três evangelhos e São Paulo já o haviam feito e, além do mais, quando João escreveu o seu evangelho no final do primeiro século, a celebração da eucaristia já era corrente nas comunidades cristãs.

Sabemos pelos evangelhos sinóticos e pela primeira carta de Paulo aos Coríntios que escutamos há pouco na segunda leitura que, na noite, antes de sua Paixão, Jesus instituiu a Eucaristia.  É um texto muito importante do ponto de vista histórico, porque data dos anos 50 a 52 de nossa era. É pois o texto mais antigo sobre a Eucaristia. “O Senhor Jesus tomou o pão e depois de dar graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. Depois da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 

Jesus instituiu a Eucaristia, que é o sacramento, o memorial perpétuo das maravilhas de Deus realizadas por seu Filho Jesus. A ceia narrada e transmitida por São Paulo conforme ele mesmo recebeu, não nega o rito da ceia pascal dos judeus, mas a aperfeiçoa.  Jesus dá um sentido totalmente novo a páscoa judaica que ele celebrou com os seus discípulos, na noite, antes de ser entregue. A Páscoa  judaica, como escutamos na primeira leitura do livro do Êxodo, é o memorial, isto é, a atualização da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.

Na ceia, Jesus antecipa no gesto tão humano de entrega do pão e do vinho,  o dom do seu corpo e do seu sangue oferecidos sobre a cruz para selar no coração do homem, da  humanidade, a nova aliança  de Deus com o seu povo, a partir de agora indestrutível, eterna.  É a nova e eterna aliança de Deus com a humanidade, selada no seu sangue. Jesus agradece ao seu Pai do qual Ele tudo recebeu; Ele se oferece ao Pai e Ele mesmo é o  sacerdote, o Sumo Sacerdote na expressão da Carta aos Hebreus, que intercede por nós junto de seu Pai.

Por duas vezes,  na narração da instituição da Eucaristia, Paulo cita as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”.  Jesus ordena, constitui, portanto, os seus discípulos, sacerdotes do Novo Testamento e àqueles que na Igreja participariam ministerialmente do seu sacerdócio pelo sacramento da Ordem, manda que repetissem essas suas palavras, esse seu gesto de geração em geração, até a sua volta.

Agradeçamos a Jesus a instituição da Eucaristia, memorial, atualização do sacrifício da cruz, presença salvífica de Jesus em nosso meio, alimento espiritual e garantia de vida eterna. A Eucaristia, como afirma o Concílio Vaticano II, retomando as palavras de Santo Agostinho: “é o sacramento do amor, sinal de unidade e vínculo da caridade, banquete pascal no qual Cristo é comido, a alma é cumulada de graça e nos é dado o penhor da vida eterna.” Rezemos pelos nossos sacerdotes e pelas vocações sacerdotais para que não nos falte santos, qualificados e numerosos  ministros para anunciar a Palavra, celebrar a Eucaristia e  servir o povo de Deus.

São João não apresenta a última ceia de Jesus como a celebração da páscoa judaica, mas dá por meio da narração da cena do Lavapés, o sentido profundo da  Eucaristia: o amor de Deus nos é plenamente manifestado neste gesto simples e humilde de Jesus. Jesus que “veio de Deus e volta a Deus”  se coloca na condição  de escravo para nos renovar inteiramente e pela oferta de sua vida  nos tornar capazes de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou. 

Durante a ceia com seus discípulos, “Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”.  Participar da Eucaristia, comungar o corpo e o sangue de Cristo, é comprometer-se a fazer da própria vida uma entrega fraterna e solidária aos nossos irmãos, especialmente, aos mais necessitados, os enfermos, os pobres, as pessoas com deficiência, os anciãos, as crianças.  

Diante do mundo de hoje no qual  muitos procuram levar vantagem em tudo e vivem, segundo a divisa “salve-se quem puder”, o evangelho proclama que a solidariedade dá sentido à vida e que a solidariedade culmina nesse amor que, a exemplo de Jesus,  se doa ao outro até o extremo. Sem a vivência do amor não pode haver Eucaristia. Acompanhemos em oração, nesta noite a Jesus no jardim das Oliveiras, e amanhã na celebração de sua morte. 

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