sexta-feira, 30 de abril de 2010

A vocação materna da mulher


Maio, “mês de Maria” e também mês no qual se comemora o “Dia das Mães”. Falar de Maria e das Mães é falar da vocação originária da mulher: a maternidade. A missão e vocação central da Virgem Maria, na história da salvação é a de ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus, o filho de Deus. “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o santo que nascer será chamado o Filho de Deus”, e Maria disse: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,31,35-38) .

O Documento de Aparecida afirma que “o ministério essencial e espiritual que a mulher leva em suas entranhas é receber a vida, acolhê-la, alimentá-la, dá-la à luz, sustentá-la, acompanhá-la e desenvolver seu ser mulher criando espaços habitáveis de comunidade e comunhão” (DA 457). A mulher traz no seu coração a vocação materna. A maternidade da mulher não se limita, é claro, ao plano biológico. Ser mãe, como também ser pai, é mais do que simplesmente gerar um filho para o mundo.

Os pais que não podem gerar filhos, podem ser pais no plano espiritual, exercendo a fecundidade “do coração”, assim como aqueles que renunciam ao casamento, por causa do Reino de Deus. Todos nós fomos criados por amor e para o amor, por isso a vocação originária e única do homem e da mulher é ser imagem do Deus amor, do Deus Pai e Mãe, na expressão de João Paulo I, através do serviço aos demais. “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher ele os criou” (Gn 1,27).

Ninguém nasceu para ser estéril, para ocupar inutilmente um espaço na terra, pois quem ama verdadeiramente sempre produz frutos. A dimensão materna como a paterna podem se realizar não só na geração e educação dos filhos, mas também de outras maneiras: na adoção de crianças, no trabalho com os doentes e idosos e de muitas outras formas. No dia de hoje, a mulher está assumindo cada vez mais funções importantes na política, na cultura, na sociedade em geral, mas é importante que ela não se esqueça da sua identidade, a sua dimensão materna, que se traduz no testemunho de valores tão importantes para a sociedade: disponibilidade, serviço, defesa da vida, ternura, atenção, companheirismo e colaboração.

Parabéns a todas as mães, em especial, as mães da Arquidiocese de Aparecida

segunda-feira, 26 de abril de 2010

HOMILIA – 4º DOMINGO DA PASCOA

Dia Mundial de Orações pelas Vocações

Este quarto domingo da Páscoa é conhecido como o Domingo do Bom Pastor, por causa do texto do evangelho de João, extraído do capítulo 10º, que é proclamado neste domingo, e no qual Jesus se apresenta como o Pastor do seu rebanho, que somos todos nós.

Cristo, o Ressuscitado, é o Supremo pastor de sua Igreja porque somente Ele deu a vida pelas suas ovelhas e somente Ele ressuscitou dos mortos. Embora, os fiéis sejam conduzidos por pastores humanos, o Papa, os Bispos, os Sacerdotes, contudo é o Cristo que os guia e alimenta.

Jesus confiou a Igreja a Pedro, aos apóstolos para que o sucessor de Pedro, o Papa, e os bispos, em comunhão com ele, a governem, com a assistência do Espírito Santo.

As leituras deste domingo nos falam da universalidade da salvação. Paulo e Barnabé anunciam o evangelho aos pagãos não por causa da rejeição de Israel, mas porque é vontade de Deus que todos os povos abracem a fé e se salvem.

Na leitura do livro do Apocalipse, João nos descreve a grande multidão salva por Cristo, vinda de todos os povos.

No evangelho, São João afirma que as ovelhas, isto é, os discípulos de Jesus, ouvem a sua voz, acolhem-na em seu coração e a testemunham em sua vida por meio de boas obras. O discípulo que assim procede é reconhecido e amado por Jesus. “as minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.”

O Bom Pastor, que é Jesus, se torna presente nos pastores que, hoje, governam a Igreja e por isso é necessário rezar sempre pelo Papa, os bispos, os padres que são uma forma da presença do Cristo ressuscitado, colocados à frente de sua Igreja, em nosso meio, a fim de que exerçam o seu ofício com dedicação, alegria, generosidade, a exemplo de Cristo.

É necessário também pedir ao Senhor operários numerosos, santos preparados, para trabalhar na sua messe, que é o mundo de hoje.


Na mensagem para este Dia Mundial de Orações pelas Vocações, o Papa Bento XVI, propõe como tema: “o testemunho suscita vocações”. O testemunho de vida do sacerdote e do religioso pode, sem dúvida, despertar noutras pessoas o desejo de corresponder ao apelo de Cristo. O Santo Padre Bento XVI destaca na sua mensagem deste ano três elementos fundamentais de toda vocação ao sacerdócio e à vida consagrada: a amizade com Cristo, cultivada na oração, o dom total de si mesmo a Deus e ao próximo e a vivência da comunhão. O exemplo daqueles que já disseram seu sim a Deus e vive de maneira coerente sua vocação suscita nos jovens o desejo de tomarem decisões empenhativas que envolve o próprio futuro.

O contrário também é verdadeiro: o mau exemplo, o contra-testemunho do sacerdote ou da pessoa consagrada pode desencorajar o jovem a responder positivamente ao chamado de Deus para uma vida de especial consagração.


Nesta Eucaristia, rezemos pelos sacerdotes e consagrados para que sejam fiéis à sua vocação e pelos vocacionados para que sejam generosos e disponíveis a responder positivamente ao chamado de Deus em suas vidas e se abram com simplicidade, confiança e disponibilidade ao chamado de Deus.

domingo, 25 de abril de 2010

Mensagem do Papa para o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações


O 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no 4º Domingo de Páscoa, dia 25 de abril, oferece-me a oportunidade de propor à vossa reflexão um tema que se enquadra bem com o Ano Sacerdotal: O testemunho suscita vocações. De fato, a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas é favorecida também – como o confirma a experiência pastoral – pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo. Assim, este tema apresenta-se intimamente ligado com a vida e a missão dos sacerdotes e dos consagrados. Por isso, desejo convidar todos aqueles que o Senhor chamou para trabalhar na sua vinha a renovarem a sua fidelidade de resposta, sobretudo neste Ano Sacerdotal que proclamei por ocasião dos 150 anos de falecimento de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, modelo sempre atual de presbítero e pároco.

Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que eram chamados a testemunhar com a sua vida aquilo que anunciavam, prontos a enfrentar mesmo a incompreensão, a rejeição, a perseguição. A tarefa, que Deus lhes confiara, envolvia-os completamente, como um «fogo ardente» no coração impossível de conter (cf. Jr 20,9), e, por isso, estavam prontos a entregar ao Senhor não só a voz, mas todos os elementos da sua vida. Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (cf. Jo 5,36), que, através da sua missão, testemunha o amor de Deus por todos os homens sem distinção, com especial atenção pelos últimos, os pecadores, os marginalizados, os pobres. Jesus é a suprema Testemunha de Deus e da sua ânsia de que todos se salvem. Na aurora dos novos tempos, João Baptista, com uma vida gasta inteiramente para preparar o caminho a Cristo, testemunha que, se cumprem, no Filho de Maria de Nazaré, as promessas de Deus. Quando O vê chegar ao rio Jordão, onde estava a batizar, João indica-O aos seus discípulos como «o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29). O seu testemunho é tão fecundo que dois dos seus discípulos, «ouvindo o que ele tinha dito, seguiram Jesus» (Jo 1,37).

Também a vocação de Pedro, conforme no-la descreve o evangelista João, passa pelo testemunho de seu irmão André; este, após ter encontrado o Mestre e aceite o seu convite para permanecer com Ele, logo sente necessidade de comunicar a Pedro aquilo que descobriu «permanecendo» junto do Senhor: «“Encontramos o Messias” (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus» (Jo 1,41-42). O mesmo aconteceu com Natanael – Bartolomeu –, graças ao testemunho doutro discípulo, Filipe, que cheio de alegria lhe comunica a sua grande descoberta: «Acabamos de encontrar Aquele de quem escreveu Moisés na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus, o filho de José, de Nazaré» (Jo 1,45). A iniciativa livre e gratuita de Deus cruza-se com a responsabilidade humana daqueles que acolhem o seu convite, e interpela-os para se tornarem, com o próprio testemunho, instrumentos do chamamento divino. O mesmo acontece, ainda hoje, na Igreja: Deus serve-se do testemunho de sacerdotes fiéis à sua missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas para o serviço do seu Povo. Por esta razão, desejo destacar três aspectos da vida do presbítero, que considero essenciais para um testemunho sacerdotal eficaz.

Elemento fundamental e comprovado de toda a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e isto suscitava nos discípulos o desejo de viverem a mesma experiência, aprendendo d’Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o «homem de Deus», que pertence a Deus e ajuda a conhecê-Lo e a amá-Lo, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no seu amor, reservando tempo para a escuta da sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Tal como o apóstolo André comunica ao irmão que conheceu o Mestre, assim também quem quiser ser discípulo e testemunha de Cristo deve tê-Lo «visto» pessoalmente, deve tê-Lo conhecido, deve ter aprendido a amá-Lo e a permanecer com Ele.

Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom total de si mesmo a Deus. Escreve o apóstolo João: «Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1 Jo 3,16). Com estas palavras, os discípulos são convidados a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de toda a sua vida, cumpriu a vontade do Pai até à entrega suprema de Si mesmo na cruz. Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda a sua plenitude; amor misericordioso que derrotou as trevas do mal, do pecado e da morte. A figura de Jesus que, na Última Ceia, Se levanta da mesa, depõe o manto, pega numa toalha, ata-a à cintura e Se inclina a lavar os pés aos Apóstolos, exprime o sentido de serviço e doação que caracterizou toda a sua vida, por obediência à vontade do Pai (cf. Jo 13,3-15). No seguimento de Jesus, cada pessoa chamada a uma vida de especial consagração deve esforçar-se por testemunhar o dom total de si mesma a Deus. Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a sua Palavra se torne luz para o seu caminho. A história de cada vocação cruza-se quase sempre com o testemunho de um sacerdote que vive jubilosamente a doação de si mesmo aos irmãos por amor do Reino dos Céus. É que a presença e a palavra de um padre são capazes de despertar interrogações e de conduzir mesmo a decisões definitivas (cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 39).

Um terceiro aspecto que, enfim, não pode deixar de caracterizar o sacerdote e a pessoa consagrada é viver a comunhão. Jesus indicou, como sinal distintivo de quem deseja ser seu discípulo, a profunda comunhão no amor: «É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13,35). De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplanar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas. Em Julho de 2005, no encontro com o Clero de Aosta, afirmei que os jovens, se virem os sacerdotes isolados e tristes, com certeza não se sentirão encorajados a seguir o seu exemplo. Levados a considerar que tal possa ser o futuro de um padre, vêem aumentar a sua hesitação. Torna-se importante, pois, realizar a comunhão de vida, que lhes mostre a beleza de ser sacerdote. Então, o jovem dirá: «Isto pode ser um futuro também para mim, assim pode-se viver» (Insegnamenti, vol. I/2005, 354). O Concílio Vaticano II, referindo-se ao testemunho capaz de suscitar vocações, destaca o exemplo de caridade e de fraterna cooperação que devem oferecer os sacerdotes (cf. Decreto Optatam totius, 2).

Apraz-me recordar o que escreveu o meu venerado predecessor João Paulo II: «A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à sua Igreja – testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal –, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fato de fecundidade vocacional» (Pastores dabo vobis, 41). Poder-se-ia afirmar que as vocações sacerdotais nascem do contacto com os sacerdotes, como se fossem uma espécie de patrimônio precioso comunicado com a palavra, o exemplo e a existência inteira.

Isto aplica-se também à vida consagrada. A própria existência dos religiosos e religiosas fala do amor de Cristo, quando O seguem com plena fidelidade ao Evangelho e assumem com alegria os seus critérios de discernimento e conduta. Tornam-se «sinais de contradição» para o mundo, cuja lógica frequentemente é inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo. A sua fidelidade e a força do seu testemunho, porque se deixam conquistar por Deus renunciando a si mesmos, continuam a suscitar no ânimo de muitos jovens o desejo de, por sua vez, seguirem Cristo para sempre, de modo generoso e total. Imitar Cristo casto, pobre e obediente e identificar-se com Ele: eis o ideal da vida consagrada, testemunho do primado absoluto de Deus na vida e na história dos homens.

Fiel à sua vocação, cada presbítero, cada consagrado e cada consagrada transmite a alegria de servir Cristo, e convida todos os cristãos a responderem à vocação universal à santidade. Assim, para se promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio «sim» a Deus e ao projeto de vida que Ele tem para cada um. O testemunho pessoal, feito de opções existenciais e concretas, há de encorajar, por sua vez, os jovens a tomarem decisões empenhativas que envolvem o próprio futuro. Para ajudá-los, é necessária aquela arte do encontro e do diálogo capaz de os iluminar e acompanhar sobretudo através do exemplo de vida abraçada como vocação. Assim fez o Santo Cura d’Ars, que, no contacto permanente com os seus paroquianos, «ensinava sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar» (Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal, 16/06/2009).

Que este Dia Mundial possa oferecer, uma vez mais, preciosa ocasião para muitos jovens refletirem sobre a própria vocação, abrindo-se a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade. A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde o mais pequenino gérmen de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-Lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade. Por esta intenção rezo, enquanto concedo a todos a Bênção Apostólica.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

HOMILIA – 3º DOMINGO DA PASCOA – 18/04/2010

Estamos no tempo pascal, tempo de alegria e de paz, fruto da ressurreição de Jesus. É uma ocasião oportuna para renovar nossa fé na presença do Ressuscitado em nosso meio para nos animar e nos acompanhar. Ele próprio prometeu a sua presença permanente entre nós: “Estou convoco, todos os dias, até o fim”.

As leituras deste III domingo da Páscoa nos recordam que o Ressuscitado não é um fantasma; é o Cristo em pessoa, vivo e vencedor da morte, centro de nossa fé.

A ressurreição é um acontecimento histórico demonstrável pelo sinal do sepulcro vazio e pela realidade dos encontros dos apóstolos e de outras testemunhas qualificadas com o Cristo ressuscitado.

É essa consciência viva da presença do Cristo ressuscitado que explica o testemunho corajoso dos apóstolos ao anunciar a Boa Nova da ressurreição apesar dos “açoites e proibições de falarem em nome de Jesus”. Mais ainda, os apóstolos, conforme a primeira leitura de hoje “saíram do Conselho muito contentes por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus”

Caros irmãos e irmãs, o Senhor Jesus espera também de todos nós, seus discípulos e missionários, um testemunho corajoso, alegre, firme no mundo de hoje, procurando viver de maneira coerente a nossa fé, de acordo com o estado de vida que abraçamos e a profissão que exercemos.

Diante de uma sociedade muitas vezes indiferente e hostil à pregação e à vivência do evangelho não podemos adaptá-lo as conveniências do mundo para evitar oposição e rejeição, “pois a Igreja, como no tempo dos apóstolos, é chamada a obedecer a Deus, antes que aos homens”.

O evangelho de hoje nos apresenta uma seqüência de três episódios: num primeiro momento, Jesus ressuscitado aparece de manhã aos sete discípulos, no mar de Tiberíades, tendo Pedro à frente, após uma noite inteira de trabalho sem pescar nada. Jesus ordena-lhes que lancem novamente as redes. Apanharam uma grande quantidade de peixes, e João, disse a Pedro: é o Senhor, isto é, o Cristo ressuscitado.

No segundo momento, Jesus prepara uma refeição e distribui pão e peixe aos apóstolos, símbolo da Eucaristia, na qual Jesus se faz alimento para nós.

Finalmente, Jesus convida Pedro a professar três vezes seu amor pessoal por ele, antes de colocá-lo à frente de sua Igreja. Pedro que havia negado Jesus três vezes, agora é reabilitado pela sua tríplice profissão de amor incondicional a Jesus. Jesus fez de Simão Pedro a pedra sobre a qual construiu a sua Igreja e lhe entregou as chaves e o constituiu chefe dos apóstolos e pastor de toda a Igreja. Esta missão que Cristo deu a Pedro, é confiada também a seus sucessores, os Papas, que para nós, hoje, é Bento XVI, aquele que torna Jesus, o único pastor, presente e visível para nós.

No final do evangelho de hoje, depois de Jesus ter confiado a Pedro a missão de pastor, Ele anuncia a Pedro a sua morte, o seu martírio: “Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir. Jesus disse isso, acrescenta o evangelho, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus.”

Partilhar com Jesus o ofício de pastor, ou colocar-se no seu seguimento, tornando-se seu discípulo, significa também participar do seu destino, isto é, do seu sofrimento, da sua paixão. É o que mostra a história milenar da Igreja.

Temos acompanhado os acontecimentos que tem sido motivo de sofrimento não só para o Santo Padre, mas também para toda a Igreja. Igreja que amamos e da qual fazemos parte desde o nosso batismo. Temos a certeza que mediante a força que brota da ressurreição e o dom do Espírito Santo, o Cristo conduzirá a sua Igreja a uma renovação espiritual e a um novo impulso missionário para ser testemunha de vida nova para o mundo.

Neste mês de abril comemoramos três datas especiais na vida do Santo Padre Bento XVI e que são de grande importância para a Igreja: o seu aniversário de nascimento, ocorrido no dia 16 passado; o 5º aniversário de sua eleição como Pastor supremos da Igreja no dia 19, amanhã, e o 5º aniversário do início do seu pontificado, no dia 24, no próximo sábado. Felicitamos o Santo Padre Bento XVI e rezemos por ele para que Deus o conserve na sua missão de inestimável valor a serviço da unidade da fé, na verdade e na caridade.

Dom Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida-SP

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mensagem do Papa Bento XVI para o 44º Dia Mundial das Comunicações Sociais


“O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra"

[Domingo,16 de Maio de 2010]

Queridos irmãos e irmãs!

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra” – insere-se perfeitamente no trajeto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: «Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão de pregar, se não forem enviados?» (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De fato, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos “multimídia” e o diversificado «espectro de funções» da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede».

Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: «Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).

Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma “diaconia da cultura” no atual «continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efetivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De fato nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na «ágora» moderna criada pelos meios atuais de comunicação.

Com estes votos, invoco sobre vós a proteção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afeto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – de 2010.
BENEDICTUS PP. XVI

Os Meios de Comunicação Social

Ninguém ignora a poderosa influência social dos meios de comunicação, sobretudo do rádio, da televisão e, mais recentemente, da Internet. As profundas e revolucionárias mudanças por eles impostas têm repercussões positivas e negativas, vale dizer repercussões benéficas e maléficas, nas áreas fundamentais da vida social, entre outras a econômica, a política, a ética e a religiosa. Os meios de comunicação social alcançam toda e qualquer região do planeta, seja no chamado mundo desenvolvido ou no mundo em desenvolvimento.

Entre nós, o meio de comunicação predominante é a televisão. Sua imagem gráfica e colorida é facilmente assimilada pelo nosso povo, que, em geral, é pouco dado à leitura e à abstração.
Afirma-se que o latino-americano lê, em média, um livro por ano, mas passa quatro horas diárias diante da televisão. Com isso, desenvolve, infelizmente, uma atitude passiva diante da vida, sem formar um juízo pessoal e crítico da realidade.
Os meios de comunicação podem ser usados como instrumento de educação e evangelização; como mecanismo de integração humana, solidária e fraterna; como recurso para a promoção da compreensão entre os povos; como instrumento de denúncia das injustiças e de mobilização da consciência cidadã; como ajuda para a tomada de decisão, apoiada em informações mais seguras e mais críticas. Por outro lado, porém, os meios podem ser utilizados para manipular o mercado e a demanda do consumidor. Na política, podem favorecer determinados grupos de poder e não a consciência analítica, crítica e ética dos destinatários. Podem estimular estilos de vida segundo sua conveniência, sem levar em conta os valores éticos e morais.

O querido e saudoso papa João Paulo II, em seu documento que é tido como o último de seu pontificado, a Carta Apostólica O Rápido Desenvolvimento, endereçada aos responsáveis pelas comunicações sociais, diz:
“Os meios de comunicação social, escreveu João Paulo II na Carta Apostólica, alcançaram tal importância que se tornaram para muitos o principal instrumento de guia e de inspiração para os comportamentos individuais, familiares, sociais. Trata-se de um problema complexo, visto que esta cultura nasce, ainda antes que dos conteúdos, do próprio fato que existem novos modos de comunicar com técnicas e linguagens inéditas (RD 3). Para enfrentar esse problema, “a Igreja não está chamada unicamente a usar os meios de comunicação para difundir o Evangelho mas, hoje como nunca, está chamada também a integrar a mensagem salvífica na "nova cultura" que os poderosos instrumentos da comunicação criam e amplificam. Ela sente que o uso das técnicas e das tecnologias da comunicação contemporânea é parte integrante da sua missão no terceiro milênio”(RD 2).

Partindo do princípio básico da comunicação, João Paulo II recorda-nos que as palavras têm um extraordinário poder para unir ou separar as pessoas, para criar vínculos de amizade ou provocar hostilidade, propriedade que se aplica a toda comunicação, em qualquer lugar e em qualquer nível.
Não há dúvida de que os meios de comunicação são um dom de Deus e uma grande riqueza para a humanidade. As modernas tecnologias oferecem-nos possibilidades jamais vistas para fazer o bem, difundir a verdade da salvação em Jesus Cristo e promover a harmonia e a reconciliação. Seu mau uso, porém, pode causar danos enormes, provocando incompreensão, preconceitos e até conflitos.

A educação leva a um conhecimento adequado, promove a compreensão, dissipa os preconceitos e desperta o desejo de aprender mais. A mensagem ressalta que as imagens, em particular, têm a capacidade de transmitir impressões duradouras e modelar atitudes. Exercem influência sutil sobre o modo como as pessoas olham os integrantes de outros grupos e os cidadãos de outras nações e como devem ser considerados: amigos ou inimigos, aliados ou potenciais adversários. Numa palavra, as imagens formam opinião.

Os meios de comunicação têm um potencial enorme para promover a paz e construir pontes entre os povos, rompendo o círculo fatal de violência e de vingança e as agressões sem fim, tão difundidas em nosso tempo. “Eles são um recurso positivo e poderoso, se postos a serviço da compreensão entre os povos; uma ‘arma’ destrutiva, se usados para alimentar injustiças e conflitos” (RD 11)