sábado, 7 de abril de 2012

Sexta-feira Santa - Santuario Nacional 06.04.12














Hoje, Sexta-Feira Santa, celebramos a Paixão e Morte de Jesus na cruz.

Hoje e amanhã não se celebra a eucaristia. São dias de silêncio, meditação, agradecimento, contemplação de Jesus morto na cruz, enquanto aguardamos a celebração da eucaristia na noite da Páscoa, mas podemos nesta celebração comungar do Corpo do Senhor entregue por nós.

O centro da celebração de hoje é a cruz de Cristo e a cor litúrgica é o vermelho, cor do sangue de Jesus, derramado, livremente, e por amor, por toda a humanidade.

As leituras que escutamos há pouco e a adoração da cruz que faremos, em seguida, nos convidam a contemplar, silenciosamente, emocionados e agradecidos, Jesus pregado na cruz para nos libertar do pecado e nos reconciliar com Deus. Numa sociedade tão barulhenta em que vivemos, a Igreja nos convida, particularmente, neste dia, a valorizar o silêncio, o recolhimento e a contemplação.

Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único não para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio dele” (Jo 3, 16-17).

O profeta Isaías anuncia um Servo que vai se entregar pelos pecados do mundo, sendo ele o santo, o justo, o inocente. “Foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas o preço de nossa cura” (Is 52,5).

O autor da Carta aos Hebreus nos diz que este Servo anunciado por Isaías é Jesus Cristo e nos descreve também a dor e o fracasso da morte do Servo com palavras que os evangelistas não haviam utilizado. “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega a Deus” (Hb 5,7).

A narração da Paixão que neste dia é sempre a do evangelho de João nos mostra que Jesus sofreu não só por nós, mas conosco e muito mais do que nós. Salvou-nos não permanecendo nas alturas, mas assumindo toda a nossa dor. “E por nós homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus. Por nós foi crucificado, padeceu e foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia.” A paixão é apresentada por João como a hora de Jesus, o momento para o qual se dirige toda sua existência. A presença de Maria e do discípulo amado, na narração de João, completa a identidade da comunidade cristã, que nasce da cruz e se alimenta dos sacramentos do batismo e da Eucaristia, simbolizados no sangue e na água, jorrados do lado de Jesus e em Maria como mãe.

Na cruz de Cristo está presente toda a dor da humanidade, a nossa dor. Por isso, no rosto desfigurado de Jesus contemplamos ao mesmo tempo o rosto de tanta gente vítima da violência que se manifesta de tantas formas na nossa sociedade; os que sofrem pela injustiça no nosso mundo; as crianças e adolescentes vítimas do trabalho escravo ou do abuso sexual; os mendigos, o povo de rua, todas as vítimas da crueldade humana; os encarcerados submetidos a condições desumanas de vida; os enfermos sem o acesso aos serviços de saúde.

A morte de Jesus não foi fruto do azar. Pertence ao mistério de Deus, como o explica São Pedro aos judeus de Jerusalém, no dia de Pentecostes: “Jesus de Nazaré, entregue segundo o plano previsto por Deus, vós o crucificastes pela mão de gente sem lei, e o matastes” (At 2,23).

Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio de amor benevolente que precede todo mérito de nossa parte: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas ele nos amou e enviou seu Filho para expiar nossos pecados” (I Jo 4,10). A prova de que Deus nos ama é que sendo ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8).

Ao contemplar Jesus cravado na cruz, devemos contemplar não só o seu sofrimento, mas a sua prolongação na humanidade e na nossa própria vida, mas sempre dentro da perspectiva pascal, do duplo movimento de morte e vida. A cruz foi a condição pela qual Jesus nos mostrou o seu amor e é caminho para nos unir a Ele e chegar a plenitude da vida.

A Sexta-Feira Santa aponta para a Vigília da noite de Sábado e para o Domingo da Ressurreição. A última palavra, tanto na vida de Jesus como na nossa vida, não é a dor nem a morte, mas a vida, a felicidade plena em Deus.

Diante da cruz de Jesus, agradeçamos-lhe o seu amor. Peçamos-lhe perdão de nossos pecados. Digamos que cremos Nele, que O amamos muito, que queremos segui-Lo até o fim de nossa vida, mesmo quando tivermos de carregar a cruz, que não é opcional; ela é inevitável, e que queremos fazer de nossa vida, à semelhança de Jesus, uma doação, um serviço aos outros.

O sofrimento sem amor e sem a participação na paixão de Cristo nos esmaga, não tem sentido, e pode nos levar ao desespero. Unido a Cristo e vivido por amor, e com certeza da ressurreição, o nosso sofrimento, a nossa dor, tornam-se mais leves e fonte de bênçãos para nós e para a humanidade.

Como cristãos temos o dever de lutar contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas associados ao mistério pascal e configurados à morte de Cristo, vamos ao encontro da ressurreição, fortalecidos pela esperança” (GS 22).

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